Uso da inteligência artificial por mulheres no trabalho é menor e revela desafios éticos, estruturais e reputacionais

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Como profissional de tecnologia, tenho acompanhado diversas ondas de inovação que transformaram o ambiente de trabalho. A inteligência artificial, que desponta como a próxima grande revolução, está exigindo novas habilidades em um ritmo acelerado. No entanto, um dado chama atenção: mulheres estão adotando a IA com mais cautela que os homens — o que pode estar criando uma nova barreira na equidade profissional.

Segundo um estudo conduzido por Rembrand Koning, da Harvard Business School, mulheres usam IA, em média, 25% menos que os homens. A pesquisa reuniu dados de mais de 140 mil participantes ao redor do mundo e revelou que essa diferença se mantém independentemente do setor, região ou cargo. Entre os motivos estão preocupações éticas, medo de julgamentos e o sentimento de que a tecnologia não foi feita para elas.

Estudos indicam que mulheres tendem a considerar aspectos como transparência, justiça e responsabilidade antes de adotarem novas tecnologias. Casos como a demissão de Timnit Gebru e Margaret Mitchell do Google, ambas envolvidas em pesquisas sobre ética em IA, reforçam a ideia de que denunciar riscos pode trazer consequências profissionais sérias.

Além disso, o medo de julgamentos no ambiente de trabalho é real: muitas mulheres temem que o uso de IA seja visto como atalho ou como sinal de despreparo. Esse receio é agravado quando os erros gerados pela IA são atribuídos a quem a utilizou, o que acontece com mais frequência em um mercado ainda marcado por desigualdades estruturais.

Outro fator relevante é que os dados usados para treinar modelos de IA muitas vezes não refletem a experiência feminina no mercado. Isso gera tecnologias enviesadas, como sistemas de recrutamento que excluem candidatas por padrões históricos masculinos. A ausência de diversidade nas equipes de desenvolvimento apenas agrava esse cenário.

Para mudar esse quadro, é essencial que as empresas promovam ambientes seguros para a experimentação de novas tecnologias, onde o erro seja visto como parte do processo de aprendizado. Também é necessário garantir que mulheres participem das discussões e decisões sobre IA, ajudando a moldar tecnologias mais inclusivas.

Quando há representatividade feminina no desenvolvimento e uso da inteligência artificial — especialmente com ética e impacto positivo — mais mulheres se sentem encorajadas a adotar essas ferramentas, diminuindo o receio e aumentando a confiança.

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